Post de Pedro Lizzard
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Este post é da autoria de Pedro Lizzard. Aqui o coloco com a devida vénia.
"ALVALADE, BANCADA A24, FILA 16, LUGAR 13
Eu vou ser absolutamente sincero : até ao 2º golo estava franca e acabrunhadamente pessimista na minha bancada A24, fila 16, lugar 13.
Como diria o René da famosa série "Allô Allô", em mim veriam um homem sem grande fé, um homem que, entre os 19 e os 70 minutos, via com mais apreensão cada bola bombardeada para o Dyer ou para o Shearer do que conseguia ver qualquer qualidade no futebol sportinguista, o qual, em tal fase, se lhe assemelhava mais a uma mosca a tentar insistentemente passar por uma janela de vidro fechada.
O que se passou naqueles últimos 20 minutos de jogo não sei.
Não sei explicar.
Acho que ainda não percebi bem que espírito desceu naquele estádio que transformou esse período do jogo em algo que, em 20 anos de "vida adepta consciente", não me lembro de ver senão ... há exactamente 20 anos, quando, da saudosíssima Superior Sul, assisti à reviravolta contra um tb arrogante Atlético de Bilbau. Desde há 20 anos, esse jogo da noite de 11/12/1985 tem permanecido o "zénite" do que q é a simbiose total entre equipe/público, e do que é a real capacidade de o segundo absorver totalmente toda a energia mental, metafísica, esotérica, terrena, atómica, eólica, enfim, qualquer tipo de energia disponível naquele recinto místico que é um Estádio (no caso *o* Estádio), e de a transmitir, de forma absolutamente irresistível e avassaladora, à primeira.
Durante estes 20 anos, convenci-me que seria possivelmente insuperável o que então se passou.
Perante o que se passou ontem, não sei se não terá, finalmente acontecido.
O que se passou quinta-feira no Estádio de Alvalade novo só tem, pois, na minha consciência de adepto, comparação com esse longínquo desafio de há mais de 20 anos no velhinho.
Terá sido uma conjugação astral bizarra? Terão os deuses futebolenses parado ontem a ver como nós jogamos?
Não sei.
E Não vou tentar descrever o que se passou, porque não consigo.
Só posso dizer uma coisa : sinto-me verdadeiramente abençoado, como adepto de futebol e como Sportinguista, por lá ter podido estar há 20 anos, e por lá ter estado ontem.
Passando a coisas mais "terrenas" (ou não).
Um nome : Pedro Barbosa.
Se os tais deuses ontem tiveram qq influência, devem ter sido eles a tocar em Barbosa quando entrou em campo. Barbosa ontem entrou em campo como um General que, estando a observar a batalha do cimo da sua colina, e vendo-a tão dificil para os seus, resolve tomar o destino de todos nas mãos, e avançar sereno, altivo mas absolutamente demolidor. Como se soubesse, desde o primeiro segundo, exactamente o que era necessário fazer para virar a sorte a seu favor. E, executando a sua missão de maneira implacável, agarrando a vontade de todos, em simbiose perfeita, mostrar-lhes o caminho da vitória.
Confesso que, ao longo dos anos, já muitas vezes exasperei com Pedro Barbosa e 'baixei' ao insulto. Ontem, quando o vi ali, poucos metros (que privilégio!) à minha frente, já com a eliminatória na mão, a esfrangalhar sem qq misericórdia o que restava de uma derrotada falange bretã, retendo a bola, afagando-a, escondendo-a, dando-lhe sempre o melhor destino, ontem, Pedro Barbosa foi para mim "Alexandre, o Grande", o maior.
A associação metafísica é de tal ordem q o melhor em campo (tomando em consideração o tempo todo) quase tinha idade para ser filho do General. Moutinho, claro. Não me lembro, nunca por nunca, nestes referidos 20 anos de adepto consciente, de um puto de 18 anos com tanta vontade, com tanto apego á luta, com tanta garra. Sim, nem Figo. Não estou a comparar um com o outro técnicamente, como é evidente. Mas em "fighting spirit"? Nunca vi. Imaginem, para manter a toada metafísica, o espírito de Sá Pinto num puto de 18 anos, e têm o Moutinho de ontem. Com a vantagem de esse espirito não se mostrar afectado pelos "desvarios" emocionais que às vezes toldam o nosso "Coração de Leão", e de ser (tal espirito) totalmente dirigido pura e simplesmente ao jogo, à luta pela posse de bola e progressão da equipa em direcção á baliza.
18 anos, meus amigos.
Verdadeiramente impressionante.
A terminar, eu tenho um sonho.
Não, não é o sonho de ganhar a Taça UEFA - esse objectivo, depois de ontem, já não está ao nível de um simples sonho, já está num grau muito mais térreo.
O meu sonho é um Sporting que consiga, durante vários anos, manter jogadores como Custódio, Moutinho, Carlos Martins e Liedson, e construir uma equipe à volta deles. Se por uma vez fosse possível, em termos de gestão, optar por criar uma base sólida como esta, acredito que teríamos um Sporting de Gloriosas Conquistas para a minha próxima década como adepto.
E a minha filha viveria a sua infância a ouvir falar na grandeza do Sporting e a saborear essas glórias.
E eu seria uma pessoa ainda mais feliz por isso.
Eu sei que é só um sonho.
Saudações Leoninas sonhadoras
Pedro Lzz."