quarta-feira, maio 18, 2005

Défices

Morrer na praia duas vezes. Foi o que aconteceu ao Sporting nesta semana negra em que esteve tão perto do céu e desceu ao inferno. Duas vezes.

Infelizmente não vi o jogo por afazeres profissionais, mas tenho que confessar que não fiquei muito surpreendido depois do jogo que o SCP fez na luz.

Nestas ocasiões é sempre fácil arranjar culpados, mas o facto de isso ser assim não quer dizer que efectivamente eles não existam.

E na minha opinião existem!

O Sr José Peseiro é funcionário do SCP. Foi contratado por uma equipe de gestores profissionais e pagos a peso de ouro que estão a fazer um bom trabalho em termos de gestão, que é o que se exige a quem é profissional e bem pago. Como tal existe toda a legitimidade para se exigir o mesmo aos restantes funcionários do clube, que já é mais que um clube é também uma SAD ou por outras palavras uma empresa.

O Sr Peseiro teve da minha parte o benefício da dúvida até à final da taça pois se o SCP a ganhasse ele apresentaria resultados, não os melhores possíveis mas apresentaria algum.

No entanto falhou. E por culpa própria. Porque é o líder. Porque é o que responde em última análise pelos resultados da equipa, bons ou maus.

E porque eu sei que não teve a mínima interferência no seu trabalho.

Portanto:

É da exclusiva responsabilidade do Sr Peseiro não impôr a disciplina necessária ao Sr Liedson, que viu um amarelo de propósito no jogo com o Guimarães para estar a descansar para se poder mostrar em grande na montra europeia tendo em vista a sua própria ambição e os seus objectivos pessoais. Que não eram compatíveis com o objectivo do SCP ganhar ao Benfica e ser campeão.

Aliás, em várias alturas da época o Sr Liedson mostrou ser alguém que pensava essencialmente nele e não na equipa.

Os exemplos são muitos e sobejamente conhecidos, por tão falados. E ainda mais grave, a história já nem sequer é nova no clube embora com outro actor também Brasileiro.

Infelizmente para o Sr Liedson e também para o clube que lhe paga o ordenado, a exibição foi muito frouxa.

Nem poderia ser melhor depois de andar a semana toda a pensar nas suas novas botas (mais uns milhares em patrocínio para o seu bolso) e a pensar nos milhares de euros que ia ganhar depois de marcar muitos golos na final.

O Sr Liedson esqueceu-se que ANTES de ter os milhões é preciso trabalhar. Ou melhor dizendo: produzir. DEPOIS é que se pensa nos milhões e nos carros e no resto que os milhões trazem.

Deve ser dos ares de Portugal que por cá esse é um mal antigo do qual sofrem também muitos Portugueses... mas isso são outras contas... outros défices.

O défice de que se fala aqui é de qualidade. O Sr Peseiro não tem qualidade suficiente para treinar uma equipa como o SCP.

Mostrou isso pela forma como o SCP jogou na Luz e novamente neste jogo da Final da Taça Uefa voltou a cometer erros infantis, que de tão óbvios me vou abster de os comentar, mas não resisto a comentar um:

Substituição de Moutinho a minutos do final por um Hugo Viana em claríssima má forma. Porquê?

Talvez pelo mesmo motivo que o Moutinho ficou no banco no jogo com o AZ Alkmar em Alvalade, para grande felicidade do treinador adversário. E também pelo mesmo motivo que tirou o Tinga a meio da 1ª parte, no jogo com o Vitória de Setúbal da primeira volta.

O motivo é simples: O Sr Peseiro não percebe o suficiente de futebol para treinar uma equipa como o Sporting. E imitar o Mourinho com decisões daquelas que ninguém espera só funciona com alguém como o Mourinho, que realmente percebe (e muito) de futebol.

Por isso o Sr Peseiro só tem uma coisa a fazer. Pedir a sua demissão. E caso isso não aconteça os Srs administradores do SCP devem demiti-lo.

É preferível pagar a indemnização do que comprometer a próxima época.

Só não vendam é o Moutinho para pagar a indemnização ao treinador. Não cometam o mesmo erro que cometeram ao vender o Cristiano Ronaldo. Porque embora a SAD tenha que dar dividendos aos accionistas, não se esqueçam que o SCP ainda é um clube e precisa ganhar uns jogos de vez em quando e para isso precisa de bons jogadores.

Tenham um pouco de paciência que se esperarem um bocadinho vão ver que daqui a um ano o Moutinho vale ainda mais, e se calhar até ganham uma comissão maior.

Ou será que têem que sacar tudo já este ano? A menos que achem que para o ano já não estão no poleiro.

Pois... são os ares deste país... mas isso são outros défices.

O défice de que se fala aqui é de objectividade.

É pensar nos louros antes de os conquistar. Querem ver?


In Site do Sporting em 17 de Maio de 2005:

Pedro Barbosa “Queremos ser grandes e ficar na História”

José Peseiro : “Queremos dar uma alegria aos portugueses”

Valery Gazzaev (Treinador do CSKA): “A ambição é ganhar”


Pois... Onde é que eu já vi isto?

Ah já sei!

Foi no Euro 2004.

A procissão da vitória desde Alcochete e os barcos na Vasco da Gama e as bandeiras e tal... ANTES de ganhar.

Ah! Pois é... faltava ganhar...

Mas isso são outros... défices.

Eu tal como já aqui disse "não ligo muito a estas coisas do futebol". São desabafos.

A minha ira contra o Sr Peseiro e o Liedson e outros eventuais culpados, é relativa, pois não investi nem um tostão nesta história toda.

O que eu realmente não perdôo é terem feito sofrer esta adepta de 5 anos
que viu o último Benfica X Sporting a meu lado e após o qual chorou copiosamente, e de certeza que hoje foi outra choradeira igual.

Isso eu não perdôo, que a Bruna coitadita, não entende estas coisas dos adultos e a única coisa que ela tem é um coração pequenino que bate como gente grande pelo Sporting Clube de Portugal.

O que fica de positivo é constatar mais uma vez a qualidade da esmagadora maioria dos adeptos do Sporting que com um enorme desportivismo aplaudiram a equipe do CSKA no final, dando uma lição a alguns que festejaram efusivamente esta derrota, e que por serem como são dão fôlego às animosidades que muitos criam contra o seu clube.

Animosidades essas que se transformam em inimizades e que mais cedo ou mais tarde acabam por lhes ser desfavoráveis.

Quem semeia ventos colhe tempestades.

Às vezes mais cedo do que se pensa.

É que o futebol ainda é um jogo em que no início existem sempre onze contra onze e três resultados possíveis e que no final tal como no início a questão se resume a números.

Para bem dos meus amigos benfiquistas, esperemos que no próximo fim de semana não ocorra um daqueles imponderáveis que dão a magia a este jogo e que o transforma numa das maiores indústrias do mundo.

E que por isso é tão exageradamente promovido em alguns países sub-pseudo-desenvolvidos.

Mas isso são outros défices.